Bem-vindo ao mundo VUCA

Se há alguma coisa da qual não podemos reclamar, nos últimos anos, é que o mundo tenha se tornado um lugar monótono. A velocidade das mudanças, que já havia se intensificado muito após a II Guerra Mundial, ganhou ares de revolução com a disseminação do acesso à internet lá em meados dos anos de 1980.
No final da década de 1990, o exército norte-americano passou a utilizar o termo VUCA para se referir à situações singulares de guerra e conflitos em que a previsibilidade do curso das ações era inexistente. O termo é um acrônimo para os termos Volatility (Volatilidade), Uncertainty (Incerteza), Complexity (Complexidade) e Ambiguity (Ambiguidade). A volatilidade se refere à velocidade com que as mudanças ocorrem e ao impacto por elas causado. No que se refere à incerteza, temos uma grande dificuldade na confecção de cenários e tomada de decisões, a gigantesca quantidade de dados que nos é apresentada, muitas vezes, torna a tarefa de selecioná-los trabalhosa e custosa. A complexidade reside no fato de raramente ser possível enxergar relações de causa e efeito de forma imediata. Múltiplas causas podem gerar inúmeras consequências em diferentes situações e, nem sempre, conseguimos replicar soluções de sucesso adotadas em um passado recente. Ao falarmos de ambiguidade, nos referimos à multiplicidade de caminhos possíveis a partir de um determinado fato gerador.
Esse mundo VUCA não é estranho para quem trabalha no universo corporativo. Mesmo nas grandes empresas de presença nacional ou mundial em que, de modo geral, as decisões estratégicas são mais demoradas, a necessidade de uma mudança de paradigma já foi detectada.
Mas quem está mais habilitado à lidar com essas mudanças aceleradas?
Quem parece conseguir um maior grau de adaptação nesse novo cenário corporativo são as empresas da nova economia e, mais especificamente, as start-ups. Essas companhias ou empresas ainda embrionárias adotam métodos como o MVP – Minimum Viable Product (produtos ou serviços ainda incompletos ou versões beta de aplicativos) para desenvolver e testar soluções de forma rápida dentro do que se denomina Ciclo de Aprimoramento do Produto em que se busca testar hipóteses e adequá-las de acordo com o feedback do mercado. Em casos extremos, em que as hipóteses necessitem ser reformuladas ou a estratégia deva seguir um rumo diferente, ocorre a pivotagem, uma mudança significativa no conceito do negócio. Tudo isso é feito de forma rápida em ciclos que variam de dias a semanas com a utilização de métodos ágeis de gestão de projetos como o Sprint e o Scrum.
Se quisermos adotar uma “mascote” para esse mundo de mudanças rápidas e consequências imprevisíveis, o autor Nassim Nicholas Taleb nos apresenta um personagem bastante apropriado: o Cisne Negro.
Durante muito tempo, a comunidade científica estava convencida de que todos os cisnes eram brancos e a descoberta de uma nova variedade de cor, a dos cisnes negros, forçou os estudiosos a rever suas certezas. Essa é uma metáfora para aquilo que damos por certo, acreditar que nosso conhecimento engloba tudo aquilo que merece ser enxergado.
No livro: A lógica do cisne negro (do original The Black Swan, 2007), Taleb apresenta três características dos eventos classificados como cisnes negros:
- A ocorrência de um cisne negro é muito difícil de ser prevista com base em dados históricos;
- O impacto de um cisne negro é significativo;
- Após sua ocorrência, é muito comum surgirem explicações lógicas sobre o acontecido.
Um exemplo clássico de cisne negro foi o atentado às Torres Gêmeas de Nova Iorque, em setembro de 2001. Apesar de o terrorismo ser uma preocupação constante para o sistema de defesa norte-americano, ninguém estava preparado para a ousadia perpetrada pelo grupo liderado por Osama bin Laden. O impacto foi enorme e abalou o mundo inteiro. Além disso, após sua ocorrência, uma série de teorias buscou explicar como seria uma questão de tempo até um ataque de tamanha magnitude.
Jamais estaremos imunes à aparição dos cisnes negros. O que nos resta é tentar diminuir as probabilidades e os impactos de suas ocorrências e elaborarmos planos de contingência capazes de mitigar as consequência nefastas da visita dessas aves que, segundo Taleb, são muito feias.
O desconhecido não deveria aprender tanto quanto ele ainda o faz… A única certeza de qualquer projeto é que jamais terminará igual ao planejado… Pessoalmente acredito que frente às surpresas é necessário sangue frio, agilidade e muita bagagem pra improvisar e ajustar as velas de forma assertiva…. Ótimo texto amigo.
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Oi, Pedro. Obrigado pelo seu comentário.
Muitas vezes o planejamento ocorre de forma não linear e a capacidade de se ajustar às imposições do ambiente é o que acaba direcionando as ações das empresas ou, como você colocou, é o que determina o ajuste das velas. Aliás, falando em velas, lembrei daquela frase que diz “Águas tranquilas não formam bons marinheiros”.
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[…] serem alcançados, exigirão uma boa dose de coragem e apetite ao risco, especialmente nesse mundo VUCA em que vivemos. Por outro lado, explotar se traduz na utilização daquilo que já se tem, são as […]
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